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O Elmo de Gjermundbu

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Esta é uma tradução autorizada de um artigo publicado por Tomáš Vlasatý, colega historiador e recriacionista histórico da República Tcheca, mentor do projeto Forlǫg e membro do grupo Marobud. Você pode apoiar o autor através de seu perfil no site Patreon.


Em 30 de março de 1943, a Universidade de Oldsaksamling, em Oslo, obteve informações de que um fazendeiro chamado Lars Gjermundbu havia encontrado e escavado um grande monte de terra perto de sua fazenda Gjermundbu na comuna de Ringerike, no condado de Buskerud, sul da Noruega. No mês seguinte o lugar foi examinado por arqueólogos (Sverre Marstrander e Charlotte Blindheim) e o resultado foi realmente fascinante.

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Planta do monte. Retirada de Grieg 1947: Pl. I.

O monte tinha 25 metros de comprimento, 8 metros de largura no ponto mais largo, 1,8 metros de altura na parte central e era predominantemente formado por solo pedregoso; no entanto, o interior da parte central era pavimentado com pedras grandes. Na parte central, cerca de um metro abaixo da superfície e sob a camada de pedra, foi descoberta a primeira sepultura, denominada “Grav I”. A 8 metros de Grav I, na parte ocidental do monte, foi encontrada a segunda sepultura, denominada “Grav II”. Ambas as sepulturas representam enterros de cremações da segunda metade do século X e são catalogadas sob a marca C27317. Ambas as sepulturas foram documentadas por Sigurd Grieg em Gjermundbufunnet : en høvdingegrav fra 900-årene fra Ringerike em 1947.

Grav I consistia em dezenas de objetos ligados à propriedade pessoal e várias atividades, incluindo lutas, arquearia, equitação, jogos de lazer e culinária. Entre outros, os mais interessantes são os objetos únicos como a cota de malha e o elmo, que se tornaram muito famosos e são mencionados ou retratados em quaisquer publicações relevantes.

Předpokládaná rekonstrukce bojovníka uloženého v Gjermundbu, 10. století. Podle
Possível reconstrução do equipamento que foi encontrado em Grav I, Gjermundbu. Tirado de Hjardar – Vike 2011: 155. O formato da coifa é o ponto fraco da reconstrução.
© 2016 Kulturhistorisk Museum, UiO.

O elmo é frequentemente descrito como “o único elmo completo da Era Viking que se tem conhecimento”. Infelizmente isso não é verdade por pelo menos duas razões. Em primeiro lugar, o elmo não é de modo algum completo – ele demonstra danos pesados e consiste em cerca de 10 fragmentos no estado em que se encontra atualmente, o que representa um quarto ou pouco mais de um terço do elmo. Para ser honesto, esses fragmentos do elmo são fixados sobre uma matriz de gesso que tem a forma aproximada do elmo original; alguns deles de maneira especulativa, podem até estar na posição errada. Membros negligentes da academia apresentam essa versão como uma reconstrução nos museus e nos livros, então essa tendência é copiada e reproduzida por recriacionistas e pelo público geral. Tenho de concordar com Elisabeth Munksgaard (Munksgaard 1984: 87), que escreveu: “O elmo de Gjermundbu não está bem preservado nem bem restaurado“.

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Uma antiga reconstrução do elmo, feita por Erling Færgestad. Retirada de Grieg 1947: Pl. VI.

Em segundo lugar, há publicações sobre fragmentos de pelo menos 5 outros elmos espalhados pela Escandinávia e também em áreas com forte influência escandinava (veja o artigo Elmos Escandinavos do Século X [em inglês]). Estou ciente de vários achados e interpretações não publicadas cujas autenticidades não podem ser comprovadas, especialmente os fragmentos de elmos encontrados em Tjele, na Dinamarca, que são muito próximos ao elmo de Gjermundbu, uma vez que consistem em uma máscara e oito faixas estreitas de metal de 1 cm de largura (veja o artigo O Elmo de Tjele [em inglês]). Baseado nos fragmentos do elmo de Gjermundbu, nos fragmentos do elmo de Tjele e na máscara de Kyiv (o formato original do fragmento de Lokrume é desconhecido), podemos dizer que o tipo de elmo “spectacle helmet” (algo como elmo com máscara ocular em português) claramente evoluiu dos elmos da Era Vendel e foi o tipo predominante de elmo escandinavo até próximo de 1000 A.D., quando os elmos cônicos com nasais tornaram-se populares.

Para ser justo, o elmo de Gjermundbu é o único elmo do tipo “spectacle helmet” da Era Viking cuja construção é completamente conhecida. Vamos dar uma olhada nisso!

O esquema do elmo. Feito por Tomáš Vlasatý e Tomáš Cajthaml.

Meu colega Tomáš Cajthaml fez um esquema muito legal do elmo, de acordo com minhas instruções. O esquema é baseado na ilustração de Grieg, em fotos salvas no catálogo Unimus e em observações feitas pelo pesquisador Vegard Vike.

A cúpula do elmo é formada por quatro placas triangulares (azul escuro). Sob a abertura entre cada duas placas, há uma tira estreita que é rebitada à outra tira ligeiramente curvada situada acima dessa abertura entre cada duas placas (amarelo). Na direção nuca-testa, a tira é formada por uma única peça, que é estendida no meio (no topo do elmo) e forma a base para o espeto (azul claro). Existem duas tiras planas na direção lateral (verde). As placas triangulares são rebitadas em cada canto da tira nuca-testa. Uma tira larga, com a linha perfilada visível, é rebitada à borda da cúpula (vermelho; não se sabe como as extremidades desta parte de metal conectavam-se). Dois anéis estavam conectados na borda dessa tira larga, prováveis restos de uma coifa em malha de aço. Na parte dianteira, a máscara ocular é rebitada na tira larga.

© 2016 Kulturhistorisk museum, UiO.

Uma vez que todas as dimensões conhecidas foram exibidas no esquema, deixe-me acrescentar alguns fatos suplementares. Em primeiro lugar, as quatro tiras ligeiramente curvas são demonstradas de maneira um pouco diferente no esquema – as originais são mais curvas na parte central e se afilam perto das extremidades. Em segundo lugar, embora o espeto seja uma característica importante, estudos nos mostram que sua presença é mais uma questão de uso estético do que de uso prático. Sobre os anéis da possível coifa de malha, o espaçamento entre eles é de aproximadamente 2 cm. Também são muito grossos, ao contrário dos anéis da cota de malha. Provavelmente foram fechados apenas encostando as pontas (butted mail), uma vez que nenhum vestígio de rebite foi encontrado. Não se pode afirmar se eles de fato representam uma coifa, porém, caso tal afirmação seja positiva, o que parece é que a coifa estava pendurada em anéis ou em um fio que atravessava estes anéis (ver meu artigo sobre Dispositivos de Suspensão de Coifas Medievais [em inglês]).

Falando sobre a máscara, os raios-x revelaram pelo menos 40 linhas que formam cílios, da mesma forma que a máscara do elmo de Lokrume (veja o artigo O Elmo de Lokrume [em inglês]). Apesar das tendências modernas, não foram encontrados vestígios de incrustações metálicas nem gotículas de metal derretido. Existe uma diferença significativa entre a espessura das placas e tiras e a espessura da máscara, mesmo esta demonstrando uma espessura irregular. Inicialmente, a superfície do elmo poderia ser polida, de acordo com Vegard Vike.

Eu acredito que estas notas podem ajudar as novas gerações mais acuradas de recriacionistas. Sem contar anéis, o elmo pode ser formado a partir de 14 peças e pelo menos 33 rebites. Tal construção é um pouco surpreendente e não tão sólida. Em minha opinião, este fato pode levantar a discussão entre recriacionistas sobre o elmo de Gjermundbu representar um elmo de guerra ou um elmo cerimonial/simbólico. Eu, particularmente, penso que não há necessidade de ver essas duas funções como funções separadas. Sou muito grato aos meus amigos Vegard Vike, ao jovem artista e recriacionista Tomáš Cajthaml e ao Samuel Collin-Latour. Espero que vocês gostem deste artigo. Em caso de qualquer pergunta ou observação, por favor contacte-me ou deixe um comentário. Se vocês quiserem saber mais e apoiar meu trabalho, por favor, financie meu projeto no Patreon.


Vestanspjǫr agradece ao amigo Tomáš Vlasatý pela oportunidade de trazermos este trabalho à língua portuguesa. A bibliografia utilizada pelo autor pode ser consultada no artigo original, no link abaixo.

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